Cabo 750V? Cabo 1000V? Quando usar????

Essa semana, em nosso grupo do Telegram, ressurgiu a pergunta Cabo 750V? Cabo 1000V? Quando usar?

Eu já abordo esse tópico, um pouco rapidamente, no curso de Projetos Elétricos FV link atualizado para Usina Solar como Nunca se Viu, que ministro mas como as dúvidas são recorrentes, vamos tentar esclarecer alguns conceitos.

Procurando na NBR5410

Qualquer projeto de instalações elétricas em baixa tensão nós começamos pelo uso da NBR5410. É natural então, que busquemos nessa norma a explicação sobre os cabos e onde utilizá-los.

Antes de qualquer coisa, precisamos entender algumas coisas sobre a NBR5410.

A NBR5410, para chegar as capacidades de condução de corrente que usamos como ponto de partida para o dimensionamento das seções dos condutores, teve que fazer uma série de considerações. Vamos ver quais são.

Métodos de referência

A NBR5410 define 9 métodos de referência, indicados na IEC 60364-5-52, onde a capacidade de condução de corrente foi determinada por ensaio ou por cálculo.

A1: condutores isolados em eletroduto de seção circular embutido em parede termicamente isolante;
A2: cabo multipolar em eletroduto de seção circular embutido em parede termicamente isolante;
B1: condutores isolados em eletroduto de seção circular sobre parede de madeira;
B2: cabo multipolar em eletroduto de seção circular sobre parede de madeira;
C: cabos unipolares ou cabo multipolar sobre parede de madeira;
D: cabo multipolar em eletroduto enterrado no solo;
E: cabo multipolar ao ar livre;
F: cabos unipolares justapostos (na horizontal, na vertical ou em trifólio) ao ar livre;
G: cabos unipolares espaçados ao ar livre.

Extraído da NBR5410:2004 – Item: 6.2.5.1.2

O problema está que, a norma fala em 9 métodos de referência, mas eu tenho um monte de formas de instalar. Como faço então?

Tipo de Linhas elétricas

O que a NBR5410 fez foi pegar cada um dos métodos de instalações e determinou qual desses 9 são equivalentes. Essa equivalência esta feita na tabela 33, que parte transcrevo a seguir.

Cabo 750V? Cabo 1000V? Quando usar? - tabela 33

Dessa forma, sabendo como vamos instalar os cabos, procuramos na tabela 33 e vamos consultar as tabelas de capacidade de condução de corrente e pronto.

Ou talvez não. 🙂

Entendendo a tabela 33

Vamos supor que queremos instalar os condutores em um eletroduto embutido em alvenaria.

Procurando na tabela 33, veremos no método de instalação 7:

Método de instalação 7 – Condutores isolados ou cabos unipolares em eletroduto de seção circular embutido em alvenaria – Método de referência B1

Agora, começa nossa dúvida. Condutor isolado ou unipolar, o que é isso? Aliás, e o Cabo 750V? Cabo 1000V? Quando Usar? Cadê isso?

Cabo 750V? Cabo 1000V? Quando usar? - unipolar x isolado

Se continuarmos a ler toda a tabela 33, veremos que a norma vai falar em cabo isolado, unipolar e multipolar e NUNCA cabo 750V ou cabo 1000V.

Cabo isolado e unipolar

Pela NBR 5471 temos que:

3.3.4 Cabo isolado

Cabo constituído de uma ou mais veias e, se existentes, o envoltório individual de cada veia, o envoltório do conjunto
das veias e os envoltórios de proteção do cabo, podendo ter também um ou mais condutores não isolados.

3.3.5 Cabo unipolar

Cabo constituído por um único condutor isolado e dotado no mínimo de cobertura.

3.3.6 Cabo multipolar

Cabo constituído por dois ou mais condutores isolados e dotado no mínimo de cobertura

Com isso, temos:

Chamamos de condutor isolado ao fio ou cabo dotado apenas de isolação. Observa-se que a isolação não precisa necessariamente ser constituída por uma única camada (por exemplo, podem ser usadas duas camadas do mesmo material, sendo a camada externa especialmente resistente à abrasão) (extraido do livro Instalações Elétricas – Ademaro Cotrim)

A cobertura é um invólucro externo não metálico e contínuo, sem função de isolação, destinado a proteger o fio ou o cabo contra influências externas.

Um cabo unipolar é um cabo constituído por um único condutor isolado e dotado, no mínimo, de cobertura.

Um cabo multipolar é constituído por dois ou mais condutores isolados e dotado, no mínimo, de cobertura. Os condutores isolados constituintes dos cabos unipolares e multipolares são chamados de veias.

Os cabos multipolares contendo 2, 3 e 4 veias são chamados, respectivamente, de cabos bipolares, tripolares e tetrapolares.

A diferença entre o cabo isolado e o unipolar consiste apenas na cobertura por cima da isolação. O objetivo da cobertura é prover o condutor de maior resistência mecânica e química.

No entanto, por também ser feita normalmente de materiais isolantes, os cabos acabam tendo um “ganho” na tensão de isolação do cabo, passando de 750V para 1kV.

Por motivos históricos e culturais, o mercado de instalações adota o termo cabo 750V como sinônimo de cabo isolado e cabo 1kV como sinônimo de cabo unipolar.

Cabo 750V? Cabo 1000V? Quando usar????

Bom, agora sabemos que cabo 750V significa cabo isolado e que cabo 1000V significa cabo unipolar as coisas ficaram mais fáceis.

Em linhas gerais (ver sempre a tabela 33 da NBR 5410), o cabo isolado só pode ser usado em condutos fechados. Em eletrodutos enterrados, só podem ser usados cabos unipolares.

Observação

Antes de encerrarmos esse post, cabe uma observação. Olhando a tabela 33 veremos que:

  • Bandeja não-perfurada, perfilado ou prateleira – cabos unipolares
  • Bandeja perfurada – cabos unipolares
  • Sobre suportes horizontais, eletrocalhas aramada ou tela – cabos unipolares
  • Leito – cabos unipolares
  • Eletrocalha sobre parede – cabos isolados ou cabos unipolares

Novamente, temos uma dúvida. Qual a diferença entre bandeja e eletrocalha?

Precisaremos, a fim de determinar corretamente qual o tipo de cabo a ser instalado, consultar uma norma que defina o que é bandeja e o que é eletrocalhas.

A norma que define o que é eletrocalhas é a NBR IEC 50 (826) – Vocabulário eletrotécnico internacional – Capítulo 826: Instalações elétricas em Edificações. Essa norma foi cancelada e não apresenta substituta até o momento, mas a definição dada pela mesma é usada pela NBR 5410 e pela bibliografia técnica disponível no mercado.

Definições da norma:

826-06-05 Eletrocalha: Elemento de linha elétrica fechada e aparente, constituído por uma base com cobertura desmontável, destinado a envolver por completo condutores elétricos providos de isolação, permitindo também a acomodação de certos equipamentos elétricos;

826-06-08 Bandeja: Suporte de cabos constituído por uma base contínua, com rebordos e sem cobertura. Nota: Uma bandeja pode ser perfurada ou não.

Toda norma NBR IEC é uma norma IEC que foi traduzida na íntegra e não apenas baseada em outra norma. Como existem algumas diferenças entre os diversos países, esta norma tem 2 anexos, sendo que no anexo B temos a seguinte nota:

NOTA (comum às definições 826-06-05, 826-06-06 e 826-06-08) – No Brasil é usual utilizar-se o termo “eletrocalha” para designar “bandeja” (que seria, entãouma “eletrocalha sem tampa”). É usual, também, utilizar o termo “canaleta” para designar eletrocalhas instaladas sobre paredes, em tetos ou suspensas e o termo “perfilado” para designar tanto eletrocalha como bandeja de dimensões reduzidas.

Bibliografia

ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMA TÉCNICAS. Coletânea de diversas Normas.

OLIVEIRA, Aloízio Monteiro. Curso Básico de Segurança em Eletricidade — Manual de Referência da NR10. Natal: Edição do autor, 1ª edição, 2007;

COTRIM, Ademaro A. M. B. Instalações Elétricas. São Paulo:Ed. Pearson Prentice Hall, 5ª Ed 2008.

MORENO, Hilton et al. Guia O Setor Elétrico de Norma Brasileiras – NBR5410 – NBR14039 – NBR5419 – NR10. São Paulo:Ed. Atitude Editorial, 1ª Ed 2011;

REVISTA O SETOR ELÉTRICO – Ed. 56 – 09/2010

9 respostas

  1. Muito bom o post Vinicius, quando você tiver um tempo faz um post falando sobre o sistema TNS e como pode ser feito o arranjo para o BEP, uma dúvida que tenho é a seguinte: considerando o aterramento do neutro lá na medição, posso (ao lado ou atrás) colocar uma caixa de passagem com um barramento e nesse barramento conectar o cabo do neutro da medição (que é aterrado) e também um cabo PE que vá para a mesma malha de aterramento (normalmente feito com 3 hastes, as concessionárias indicam em suas normas fazer o aterramento dessa forma), onde desse barramento que chamo de BEP( não se posso chamar de BEP), seguir o condutor Neutro (na cor azul) e o condutor PE(na cor verde) + as fases para o quadro de distribuição da instalação, onde lá teremos um barramento de neutro e um PE, gostaria de saber se fazendo dessa forma estarei atendendo ao requisitos de uma sistema de aterramento TNS? se não, quais são as suas sugestões para que possamos fazer da forma mais correta. ( Como você é um profissional bem experiente resolvi te perguntar sobre esse assunto)

  2. Prezado Vinicius, parabéns pelo post!

    Aproveitando o assunto, outro dia surgiu uma dúvida quanto ao fator de correção por agrupamento (FCA), estabelecido pela NBR5410 para correção da corrente de projeto de um circuito.

    Quero dimensionar a bitola de um circuito, em baixa tensão, que possui uma corrente relativamente elevada, de modo que será mais econômico utilizar mais de um cabo unipolar por fase. Como os cabos estão protegidos pelo mesmo disjuntor, logo, posso concluir que fazem parte do mesmo circuito (NBR IEC 50 – definição de circuitos elétricos), então devo consultar na tabela 42 da NBR5410 o FCA equivalente a 1 circuito, independente do números de cabos, correto? Surgiu esta dúvida outro dia, um colega achou que deveríamos levar em conta o número de condutores em vez do número de circuitos.

    Muito obrigado!

    1. Vicente, eu sempre considerei nesse caso, para fins de FCA como sendo mais de um circuito independente de ser um ou mais dispositivos de proteção. Te explico o porquê. Cada cabeamento vivo pode ser considerado uma fonte de calor. O que o FCA faz é levar em consideração o calor gerado pelo outro circuito para que eu possa determinar a máxima conducao de corrente nessas condições. Então, sendo o mesmo circuito ou não, o que importa é que gera calor logo, o FCA deve ser considerado. Mas, muito interessante sua pergunta, nunca tinha analisado dessa forma. Quando tiver um tempo vou olhar a 5410 vendo se ela é mais direta do que a linha de raciocínio que adotei. Forte abraço.

      1. Realmente, faz sentido ser por cabeamento vivo. Vou procurar saber melhor também.

  3. Muito bom Ayrão!! Além de engenheiro sou tb professor de curso técnico em eletricidade, vou duplicar seus ensinamentos!!! Obrigado !!

Vinicius Ayrão

Vinicius Ayrão, carioca, apaixonado por energia elétrica, seus conceitos e práticas. Graduado em engenharia eletrotécnica, com pós em gestão de projetos e trajetória empreendedora.

Confraria | Comunidade VAF

On Demand | Consultoria

Oportunidades

Biblioteca do Engenheiro

Cursos

Nos Siga nas Redes Sociais

Conhecimento dividido multiplica!

“Se eu vi mais longe, foi por estar sobre ombros de gigantes.” Isaac Newton.

O nosso principal objetivo no blog é dividir e disseminar conhecimentos em instalações elétricas, solar FV, segurança em eletricidade e gerenciamento de projetos. É minha contribuição em reconhecimento a todos aqueles cujos exemplos e conhecimentos me fizeram caminhar na profissão, principalmente a meu pai, o engenheiro Luiz Venancio.