Bom, não fui só o finalista do Prêmio Abracopel de Jornalismo de 2017, com uma série de 6 artigos em minha coluna Espaço Solar da Revista Lumiere – acesso interrompido por iniciativa da publicação.
Hoje, transcrevo o artigo sobre Riscos na instalação de placas fotovoltaicas.
O primeiro artigo você pode ler aqui.
Riscos na instalação das placas fotovoltaicas
Podemos dividir uma instalação de sistema fotovoltaico conforme desenho abaixo:
- Módulos Fotovoltaicos
- Cabos/infraestrutura CC
- Seccionamento/proteção CC
- Inversor
- Seccionamento proteção CA
Quando falamos de segurança, devemos pensar não apenas na segurança do trabalhador que executa a instalação como das pessoas que utilizam as instalações durante todo o se decorrer de vida útil.
Módulos Fotovoltaicos
Perigos na fixação dos módulos – Antes de instalar
Quando realizamos a instalação de um módulo fotovoltaico em uma instalação já construída, devemos ter em mente que estamos acrescentando uma carga não prevista originalmente na estrutura e no telhado do imóvel.
Um telhado de telha cerâmica possui aproximadamente 30kg/m² e um módulo fotovoltaico cerca de 12kg/m², sem contar suportes (média de peso entre o módulo de 265W e 320W da Risen).
Com isso, a instalação dos módulos fotovoltaicos aumenta em 40% o peso/m² que a estrutura do telhado precisa suportar.
Além do peso dos módulos fotovoltaicos é necessário que se observe os efeitos da ação do vento, dessa forma, tanto os módulos, suas estruturas de suporte e os métodos utilizados para fixação precisarão ser dimensionados para a velocidade máxima do vento esperada no local, conforme normas aplicáveis.
A força do vento que será aplicada ao arranjo fotovoltaico gerará uma carga significativa para a estrutura da edificação e precisa ser incluída no cálculo de avaliação da capacidade da edificação suportas essas solicitações mecânicas.
A principal carga acidental, que incide sobre o telhado, é provocada pelo vento. A ação do vento as vezes é transmitida às estruturas principais segundo direções não contidas no plano das mesmas, tornando-se necessária a utilização de uma estrutura auxiliar destinada a resistir a esses esforços. (NORMAN BARROS LOGSDON, 2002)
Esse ponto é um dos primeiros pontos que não tem sido bem observado pelas empresas instaladoras do mercado, pois esse tipo de cálculo é realizado por um profissional específico, que raras vezes fazem parte do quadro técnico dessas empresas.
Deve-se levar em consideração também que as estruturas já são, na grande maioria das vezes, existentes, então o estado de conservação dela também de ser observado, além de se verificar a forma como foi executada, pois de nada adianta um projeto ter sido bem desenvolvido, mas a execução não ter seguido esse projeto no passado.
(lamentavelmente, no dia 7/12/17, houve um acidente com morte na queda de uma estrutura apenas com a visita da empresa de instalações de sistema solar. A reportagem pode ser lida aqui.)
Perigos na fixação dos módulos – Durante a instalação
O trabalho de instalação desses módulos também é crítico quanto ao quesito de segurança. Se trata de trabalho em altura e em plano inclinado (quando em residência, na maioria das vezes e com içamento de carga).
O treinamento em NR-35 é necessário, mas não suficiente. Da mesma forma que se ocorre com o treinamento de NR-10, as pessoas tendem a achar que o treinamento basta para atender a segurança. Ledo engano.
O treinamento é apenas o ponto de partida.
A NR-35 prescreve que:
35.4.2 No planejamento do trabalho devem ser adotadas, de acordo com a seguinte hierarquia:
a) medidas para evitar o trabalho em altura, sempre que existir meio alternativo de execução;
b) medidas que eliminem o risco de queda dos trabalhadores, na impossibilidade de execução do trabalho de outra forma;
c) medidas que minimizem as consequências da queda, quando o risco de queda não puder ser eliminado.
A primeira medida não é possível atender na instalação dos painéis, pela própria necessidade de instalação.
E agora?
Com isso, precisaremos tratar das outras duas medidas.
A NR-35 diz que:
35.5.1 É obrigatória a utilização de sistema de proteção contra quedas sempre que não for possível evitar o trabalho em altura. (NR)
Esse é um item que é muito difícil em se atender em sua totalidade em uma instalação residencial.
A norma define que o sistema de proteção contra quedas seja coletivo (por exemplo, guarda-corpos provisórios durante todo o período de trabalho, o que se mostrará inviável economicamente) e quando ele não for possível, que se utilize medidas que minimizem as consequências da queda.
Resta-nos então, minimizar as consequências da queda. A solução “padrão” para isso é o uso do cinto de segurança com talabarte duplo, no entanto, onde fixar?
Com isso, podemos concluir que apenas o treinamento em NR35 não é suficiente para se garantir o trabalho com segurança.
Aliás, a empresa contratada, ou melhor a que oferta o serviço, precisa ter discernimento para identificar serviços que não são viáveis de serem executados pois a condição do imóvel não permite que o trabalho seja realizado em condições aceitáveis de segurança (veja o acidente descrito anteriormente).
Então, antes de se iniciar propriamente a execução dos serviços de instalação do sistema fotovoltaico, dois pontos já precisam ser analisados:
- A estrutura existente suporta os esforços novos, oriundos da instalação do sistema?
- Como trabalhar, efetivamente, sem risco de acidentes no trabalho em altura?
Até o momento, os serviços de eletricidade propriamente dito, não iniciaram, e ainda resta um ponto para analisarmos antes disso.
E o içamento dos painéis, como fazer?
As opções utilizadas variam desde carregar por escadas de serviço, içamento manual com corda e roldana, içamento com talhas manuais ou elétricas ou através de caminhão guindaste (munck).
A opção mais segura deve ser estudada caso a caso, no entanto, vemos no mercado, içamentos realizados com improvisações, como pedaços de madeira presos de qualquer forma, com uma roldana na ponta e utilizado para o içamento dos painéis.
Nas figuras abaixo, exemplos de meios de içamentos seguros.
Ainda no telhado, apesar de não trazer risco direto e imediato para quem desempenha o serviço de instalação temos um ponto muito importante para avaliar.
Fixação dos módulos
Como e onde fixar os módulos? O mercado apresenta uma série de soluções para isso, mas sempre se deve ser observado as condições do local.
Sempre há o risco de se danificar a impermeabilização ou de se danificar telhas, que no futuro, podem vir a se quebrar, gerando problemas tanto de infiltração como das estruturas cederem futuramente sob ação do vento.
Conclusão
O objetivo do artigo de hoje foi mostrar que os serviços inicias de uma instalação de um sistema fotovoltaico já possui uma série de riscos em sua execução, e que para isso, o PLANEJAMENTO de como executar os serviços é fundamental para a segurança.
Sempre devemos salientar que um sistema FV é vendido para o cliente para uma vida útil de pelo menos 25 anos. Não faz sentido a placa durar 25 anos e a instalação ser malfeita e no futuro aparecerem custos inesperados.
Lembrando sempre, SEGURANÇA GERA QUALIDADE!
No próximo artigo tratarei das exigências referentes ao cabeamento, conexões e infraestrutura para interligação dos módulos com a string box.
Artigo publicado originalmente na revista Lumière Electric 227 – Link da revista acesso interrompido por iniciativa da publicação
Fotografo da Imagem de Capa: Tiago Carvalho/InterTV dos Vales
Imagem de capa extraída de: https://g1.globo.com/mg/vales-mg/noticia/idoso-de-78-anos-morre-apos-teto-de-asilo-desabar-em-frei-inocencio.ghtml em 13/12/2017.
2 respostas
Realmente uma fatalidade esse episódio do telhado que despencou, mas que poderia ter ocorrido com qualquer prestador de serviço que viesse a subir no telhado sem antes se certificar das condições do madeiramento do telhado.
Excelente artigo Vinícius! Parabéns mais uma vez!