Demanda? Fora de Ponta? Horo Sazonal? Traduzindo o “Elitricitrês”

Você quer saber de Geração Distribuída?
Você precisa saber a diferença de demanda e consumo

Tenho visto nos grupos de discussão que participo no WhatsApp e conversando com pessoas do mercado de geração distribuída, principalmente de energia Fotovoltaica, uma enorme dificuldade de entender os conceitos de consumo e demanda, bem como a forma de cobrança das concessionárias para os clientes cativos, do grupo A4 e AS. Vou tentar esclarecer.

Começando do inicio…

Ao usarmos o chuveiro elétrico, acendermos uma lâmpada ou usarmos a bomba de água, não estamos fazendo nada mais que converter a energia elétrica em outra forma de energia. Essa energia, para chegar em nossos lares e trabalhos precisa percorrer um longo caminho e precisa ser produzida de alguma forma, logo ela tem um preço. Esse preço engloba todos os atores envolvidos desde sua geração até chegar em um local que nós possamos utilizá-las.

A unidade de medida de energia do SI (Sistema Internacional de medidas) é o Joule. No entanto, por motivos históricos no desenvolvimento da Física, cada ramo da engenharia acaba utilizando uma unidade de medida diferente. No caso de energia elétrica, os engenheiros eletricistas utilizam o kWh (1 WH = 3600 J)

Bom, sabemos que a concessionária nos fornece energia elétrica, então ela nos cobra energia elétrica. Assim sendo, qualquer conta de energia elétrica vai ter uma parcela chamada consumo, cuja unidade de medida é o kWh.

Mas…. e a tal da Demanda?

Vamos imaginar que tenhamos uma lâmpada de 100W acesa durante 10h em um dia, a energia consumida será então 1(lâmpada) x 100(W) x 10 (h) = 1000Wh.

Agora, vamos fazer o contrário, vamos usar 10 lâmpadas de 100W durante apenas 1h em um dia. Nesse caso, a energia consumida será então 10 (lâmpadas)  x 100(W) x 1(h)  = 1000Wh.

Reparem que em ambos os casos, a energia consumida foi igual, mas utilizadas em tempos diferentes.

E por que isso é importante? Todo o dimensionamento do sistema elétrico, desde a geração até chegar no consumidor é feita em cima dos valores máximos instantâneos (não instantâneos, explico no final). Dessa forma, além da geração, deve ser investido dinheiro para a transmissão, e isso entra no preço da energia.

E agora, como pagamos a energia?

Bom, nossa legislação difere as tarifas e a forma de cobrança em função do tipo de cliente e da tensão de alimentação (que por sua vez é definida pela potência (a demanda máxima) que você vai solicitar).

Essa divisão é o que a ANEEL chama de CLASSES DE CONSUMO, resumidas na tabela abaixo:

tabela-classes-consumo

Na maioria dos casos, instalações com potências inferiores a 75kW serão do grupo B e acima disso, do grupo A (Em post futuro tratarei dessas exceções).

Então, para potências menores que 75kW, a concessionária vai te alimentar em baixa tensão. Esse cliente então, em sua conta de energia elétrica vai pagar apenas o CONSUMO (kWh) e não paga DEMANDA!

 As tarifas variam de concessionária para concessionária, mas para qualquer concessionária as tarifas de consumo de baixa tensão são mais caras que em outras modalidades.

Mas, se sua potência instalada for superior a 75kW você receberá energia em média tensão (o termo técnico é alimentado em tensão primária de distribuição). A conta de energia elétrica agora difere, além do consumo, você paga pela sua DEMANDA (kW)!

Bom, então a conta de média tensão tem duas parcelas, o referente ao consumo e o referente a demanda. Antes de explicarmos quais os tipos de faturamento (é, tem mais de um, sinto muito) vamos tentar explicar melhor o que é e como a concessionária mede e cobra a demanda.

Relembrando ou aprendendo conceitos….

Para saber qual a energia consumida por um equipamento elétrico, multiplicamos sua potência pelo número de horas em funcionamento.

Vamos supor um cliente fictício, com os valores de equipamentos e funcionamento conforme tabela abaixo:

tabela-10

Bom, vemos que esse cliente tem um consumo diário de 816kWh. Se esse cliente é um cliente de classe B, não tenho mais nenhuma preocupação, sei o quanto ele gastará em R$ de energia elétrica. Mas, vamos analisar como ele usa a energia diariamente, no gráfico abaixo.

grafico-1

Podemos notar que o uso da energia não é linear durante o dia todo. O pior ponto de uso do dia é o que chamamos de DEMANDA.

grafico-2

A energia consumida nada mais é do que a área dessa figura.

Mas, vamos pegar esse mesmo cliente, e supor que se resolveu começar o horário de trabalho mais cedo, passamos a ter o seguinte funcionamento:

nova-carga

grafico-3

Nos dois casos a energia consumida foi a mesma, MAS A DEMANDA foi diferente.

O exemplo foi bem simplificado. Na verdade, a curva diária é uma curva com muito mais variações do que essa.

E como a concessionária mede a demanda? Na verdade, ela calcula a demanda a cada 15 minutos e a demanda medida é a MAIOR que ocorrer no mês.

Opa, MAIOR? Sim, isso mesmo. Em um mês típico de 30 dias, a concessionária mede 2880 valores de demanda e o valor a ser utilizado como valor medido é o MAIOR.

Agora, com o conceito entendido vamos falar de tarifas agora.

Vou me ater apenas no Subgrupo A4, pois tensões acima de 25kV já são de potências superiores a 2,5MW, com enorme chance de ser cliente optante do mercado livre, logo fora do objetivo que motivou o post.

Ainda temos um novo conceito antes de entrarmos no faturamento propriamente dito.

HORÁRIO DE PONTA – O QUE É ISSO?

O consumo de energia elétrica varia durante o dia, dessa forma, o sistema de geração precisa atender essa variação. Em horários de muita solicitação, pode ser necessário que seja necessário se acionar usinas cuja a geração de energia seja mais cara. A ampliação do sistema elétrico é feita em função da demanda máxima.

Oras, aplicando o princípio de oferta x demanda, no momento que eu tenho mais pessoas procurando energia, ela se torna mais cara.

O que o horário de ponta tenta refletir é esse custo maior para o cliente final, com isso, se ele puder deslocar seu consumo para outro horário, ele o fará (vai usar a mesma energia, mas pagando menos).

No Brasil, o horário de ponta é um intervalo de 3 horas consecutivas, entre as 17hs e 22hs, em dias úteis, variando de concessionária para concessionária. Na Light, por exemplo, esse intervalo é entre 17:30 e 20:30.

Finalmente, vamos falar das tarifas.

Já sabemos o que é demanda e o que é horário de ponta. Vamos às tarifas possíveis para o os clientes do Subgrupo A4.

TARIFA CONVENCIONAL

Esse tipo de tarifa vai ser extinta a partir das revisões tarifárias das distribuidoras. Como eu não sei se todas as distribuidoras já extinguiram, segue a explicação.

Nessa tarifa, o consumidor paga o consumo medido (em kWh) e a demanda. Não há diferença se o consumo ou a demanda ocorrem no horário de ponta ou no horário fora de ponta. Já tem algum tempo que só é permitido para demandas de no máximo 300kW, além de estar em vias de extinção.

TARIFA HORO-SAZONAL VERDE

Na tarifa HORO-SAZONAL VERDE, que simplesmente chamamos no mercado de tarifa verde, os valores de consumo são diferentes no horário fora de ponta e no horário de ponta, mas a demanda é uma única.

TARIFA HORO-SAZONAL AZUL

Na tarifa HORO-SAZONAL AZUL, que simplesmente chamamos no mercado de tarifa azul, os valores de demanda e consumo são diferentes no horário fora de ponta e no horário de ponta.

Observação: Os valores tarifários variam no ano em função das chuvas, ou seja, período úmido ou seco. Para o objetivo do post, essa variação não importa, pois só modifica os valores que as concessionárias cobram.

Complicou?

Vamos ver uns exemplos (ambos da área de concessão Light)

Cliente com conta no HS Verde:

conta-hsverde

Cliente com conta no HS Azul

conta-hsazul

No cliente HS Verde, a demanda só é cobrada 1 vez, não importa se ela acontece no horário de ponta ou no horário fora de ponta. Em compensação, sua tarifa de consumo na ponta é 1,639 (soma do TUSD + TE). No cliente HS Azul, a demanda é cobrada na Ponta e na Fora de Ponta, sendo a tarifa na Ponta praticamente o dobro na fora de ponta. No entanto, o custo do kWh na ponta é menor que na HS Verde (0,7781, ou seja, 48%).

Não existe nenhuma obrigatoriedade das demandas de Ponta e Fora de ponta serem iguais. Na grande maioria dos casos, não é. Esse cliente específico estava com o contrato mal feito.

Bom, ainda tem uma outra coisa para falar sobre demanda.

DEMANDA CONTRATADA X DEMANDA MEDIDA

Quando se faz o contrato junto a concessionária precisamos determinar um valor de DEMANDA CONTRATADA. Toda vez que a demanda medida for menor que a demanda contratada, pagaremos a demanda contratada. Se a demanda medida for maior que a demanda contratada em até 5%, pagaremos a demanda medida, mas se a demanda medida EXCEDER EM MAIS DE 5% da demanda contratada, o valor de demanda que exceder a contratada, pagaremos uma tarifa de 300%.

Porque isso é importante? Antes de ofertar energia solar para seu cliente, verifique se ele não está com o contrato mal feito.

E a Geração Distribuída com energia FV nisso tudo?

A análise financeira muda, e muito, se compararmos um cliente do Grupo B e do A. Primeiro, o valor do kWh no grupo B é maior que no grupo A, e você continua tendo que pagar a demanda, logo sua economia em R$ será menor.

Nos próximos posts darei sugestões de quais valores de consumo se basear para a determinação de quantos kWp se deve instalar.

Ainda tem dúvidas sobre o assunto? Deixe suas perguntas nos comentários que terei um enorme prazer em tentar esclarecê-las.

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Vinicius Ayrão

Vinicius Ayrão, carioca, apaixonado por energia elétrica, seus conceitos e práticas. Graduado em engenharia eletrotécnica, com pós em gestão de projetos e trajetória empreendedora.

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Conhecimento dividido multiplica!

“Se eu vi mais longe, foi por estar sobre ombros de gigantes.” Isaac Newton.

O nosso principal objetivo no blog é dividir e disseminar conhecimentos em instalações elétricas, solar FV, segurança em eletricidade e gerenciamento de projetos. É minha contribuição em reconhecimento a todos aqueles cujos exemplos e conhecimentos me fizeram caminhar na profissão, principalmente a meu pai, o engenheiro Luiz Venancio.