Em instalações fotovoltaicas residenciais uma dúvida muito comum é: Precisa de DR?
A resposta, como em qualquer área da engenharia não é um SIM ou NÃO.
Vamos explicar esses pontos passo a passo.
DR – Por quê, para quê e aonde
O DR (na verdade, o dispositivo diferencial residual) é um dispositivo de proteção que atua sempre que uma corrente de fuga aparece no circuito.
Os DR se dividem sendo de ALTA SENSIBILIDADE e de baixa sensibilidade.
Os de alta sensibilidade são aqueles que atuam a partir de uma corrente de 30mA, e deles que trataremos. Dessa forma toda vez nesse texto que eu mencionar DR, estou falando do DR de alta sensibilidade.
O DR é obrigatório em condições onde o risco x dano do choque é maior.
Em linhas gerais, costumamos nos referir dizendo que o DR é obrigatório em área molhadas.
Por se tratar de um dispositivo de segurança, ele pode ser usado em outros setores também, mas em locais como cozinhas, áreas de serviço, chuveiros, dentre outras, é obrigatório.
E em Fotovoltaico, é obrigatório?
A principio, no inversor fotovoltaico, não.
Mas, vamos analisar alguns pontos.
Um instalação residencial tem 3 tipos de distribuição básica das instalações elétricas.
Instalação elétrica residencial sem DR
Esse tipo de instalação, a mais comum encontrada, está errada.
As pessoas nessa situação, não estão devidamente protegidas contra choques elétricos.
Se instalarmos um sistema fotovoltaico, o unifilar seria o da figura a seguir.
E se tivermos uma fuga para a terra?
Se houver uma fuga em um circuito na cozinha, por exemplo, podemos ver que não há nenhum dispositivo existente no circuito capaz de proteger as pessoas para esse tipo de falha.
Se a falha acontecer em um momento em que não haja produção de energia pelos sistema fotovoltaico, a instalação já está desprotegida, e nessa condição, nada mudou.
No entanto, e se a falta ocorrer em um momento que o sistema fotovoltaico esteja alimentando a instalação?
Chegamos a primeira pergunta. Em instalações fotovoltaicas residenciais que não tem DR, sou obrigado a colocar o DR?
Minha resposta.
Não sei.
Nesse caso especifico, a condição insegura já existia, então eu não consigo traçar uma linha de raciocínio que obrigue a acertar isso.
No entanto…
Eu acho que deve. A segurança das pessoas deveria vir antes da economia de energia ou da sustentabilidade. Não entendo sustentabilidade sem pessoas.
Instalações fotovoltaicas residenciais onde já existe o DR
Agora temos os casos onde a residência já está segura no quesito choque elétrico.
Dependendo da filosofia adotada pelo projetista, ele pode ter optado por colocar os DR´s por circuitos ou conjunto de circuitos ou optado por colocar o DR geral.
Vejamos o impacto da instalação do sistema fotovoltaico nos dois.
DR Geral
Nessa situação, as pessoas estão protegidas contra choques. Ao instalarmos um sistema fotovoltaico, poderíamos fazê-lo da seguinte forma:
Nessa condição, temos em caso de uma fuga para a terra em um circuito da cozinha, por exemplo, teremos duas condições.
A primeira, quando o fluxo de potência está sendo atendido pela concessionária, O DR geral atuará, protegendo as pessoas.
A segunda, quando o fluxo de potência está sendo fornecido pelo sistema fotovoltaico, a condição segura virou insegura.
Ou seja, o cliente que até o momento possuía as condições mínimas de segurança, agora não está mais!!!!
O cliente colocou um sistema FV e colocou a sua vida em risco e a de seus familiares.
E agora?
Agora você precisa garantir que a proteção contra choques elétricos está funcionando depois que o sistema FV estiver ligado.
Isso é responsabilidade sua!!!
O sistema fotovoltaico que mudou as características da instalações elétrica.
Lembra da sua ART? Pois é, ela serve justamente para isso!! (Sugiro a leitura do post: https://viniciusayrao.com.br/projeto-fotovoltaico/ )
DR Parciais
Em instalações fotovoltaicas residenciais onde os DR´s são por circuitos ou grupos de circuitos, a proteção estará segura mesmo após a instalação do sistema FV, se instalarmos conforme figura a seguir.
No momento de uma fuga qualquer no circuito da cozinha, independente de qual a fonte de tensão no momento, o DR irá atuar, garantindo a segurança.
Conclusões
Uma instalação fotovoltaica não é simples. Independente do senso comum ou da propaganda feita pelo mercado, uma instalação fotovoltaica faz parte de uma instalação elétrica.
E eletricidade traz riscos.
É dever do projeto e da execução garantir a segurança de todos.
Agradecimentos e conhecimento dos outros
O primeiro a chamar atenção sobre o erro na instalação fotovoltaica com a residência com DR Geral foi o João Cunha da Mi Omega (na verdade, ele disse algo do tipo, “Caboclo, teus projetos estão errados”).
Meus agradecimentos ao João Cunha e aproveitem para conhecer a Universidade Mi Omega.
#eletricidadecomsegurança #empreendedorismocomresponsabilidade #engenhariaetica
14 respostas
Boa noite, Vinícius.
Mais um excelente artigo teu. Parabéns.
Qual sistema de aterramento vc recomenda nessa caso de de instalação FV + DR por grupo de circuito? Vc recomenda o TN-S ou o TT? E por quê?
Luis,
Obrigado. Quanto ao sistema de aterramento, prefiro o TN. A maioria, se não todas, as unidades atendidas em BT são em TN, não teria por modificar. O TT vai me obrigar o uso do DR em tudo, inclusive no FV, para garantir o seccionamento automático da alimentação, então, não faz sentido em instalação residencial, no meu entender.
Quanto ao melhor local de colocar o FV, onde for melhor tecnica e economicamente para você, tomando o cuidado de garantir que onde precisa da atuação do DR, que o DR atue não importando de onde vem o fluxo de potência.
Abraços
Vinicius, show! depois de desvendar o uso do DPS, essa aula sobre o DR é outro grande aprendizado que voce nos proporciona. Gracias! Hermano!
Vinicius, parabéns pelo artigo. Sempre levantando as questões de segurança na área da fotovoltaica. Já vimos tanta coisa acontecer, que nunca é demais trazer mais e mais alertas.
Uma dúvida. O que acha de conectar o sistema fotovoltaico entre o geral do QDG e o padrão? Assim se aproveita o DR do próprio QDG, quando houver. Além disso, o desligamento do disjuntor geral das cargas, para alguma manutenção, por exemplo, não interrompe a geração de energia.
Para ser sincero, é a alternativa que mais me atrai, mas muitas vezes um pouco mais custosa.
Vinicius, o que acha da opção de colocar o DR junto com o disjuntor logo depois do inversor, mantendo o DR geral (QDG)? Assim o instalador não teria que mexer na instalação existente do cliente. Vê algum problema nesta configuração?
Jorge, é uma opção correta. Só não podemos esquecer que normalmente usamos o IDR (interruptor DR) que não tem a função de proteção contra sobrecorrentes, então no ponto de derivação da instalação elétrica interna para o inversor colocaríamos um IDR + um disjuntor
Muito bem explicado, excelente artigo, pois ninguém até o momento havia abordado este assunto de tanta importância. Mas uma vez Vinicius sempre na frente no quesito segurança.
Um excelente professor e consultor. Quem ainda não teve a oportunidade de fazer os cursos dele, que faça o mais breve possível, pois o que você irá aprender será útil para seus futuros projetos, alem do mais que você poderá tirar dúvidas a qualquer momento pelo zap ou mesmo ligando a qualquer momento, que ele prontamente irá atende-lo e esclarecer suas dúvidas.
Obrigado Alcides! Vai preparando o chopp que em Abril estamos ai em Salvador!
Parabéns Vinícius pela iniciativa em tocar no assunto. Sou pesquisador e há tempos tenho visto instalações erradas e imprudência, principalmente por falta de preparo adequado de profissionais que embora estão iniciando no mercado e na ânsia de não perder clientes esquecem de princípios básicos como a proteção da instalação como um todo. Muitos nem sequer fazem um aterramento adequado e procedem as medições durante a instalação e a posteriori, colocando risco o patrimônio dos clientes.
Excelente Vinicius!
Obrigado Marcos.
Sempre claro e objetivo! Muito bom mais uma vez seu artigo Vinícius! Parabéns!
Valeu grande Tannure.