Riscos na instalação das placas fotovoltaicas

Bom, não fui só o finalista do Prêmio Abracopel de Jornalismo de 2017, com uma série de 6 artigos em minha coluna Espaço Solar da Revista Lumiere – acesso interrompido por iniciativa da publicação.
Hoje, transcrevo o artigo sobre Riscos na instalação de placas fotovoltaicas.

O primeiro artigo você pode ler aqui.

Riscos na instalação das placas fotovoltaicas

Podemos dividir uma instalação de sistema fotovoltaico conforme desenho abaixo:

Riscos na instalação de placas fotovoltaicas
Imagem extraída de https://www.portalsolar.com.br/sistema-fotovoltaico–como-funciona.html
  1. Módulos Fotovoltaicos
  2. Cabos/infraestrutura CC
  3. Seccionamento/proteção CC
  4. Inversor
  5. Seccionamento proteção CA

Quando falamos de segurança, devemos pensar não apenas na segurança do trabalhador que executa a instalação como das pessoas que utilizam as instalações durante todo o se decorrer de vida útil.

Módulos Fotovoltaicos

Perigos na fixação dos módulos – Antes de instalar

Quando realizamos a instalação de um módulo fotovoltaico em uma instalação já construída, devemos ter em mente que estamos acrescentando uma carga não prevista originalmente na estrutura e no telhado do imóvel.

Um telhado de telha cerâmica possui aproximadamente 30kg/m² e um módulo fotovoltaico cerca de 12kg/m², sem contar suportes (média de peso entre o módulo de 265W e 320W da Risen).

Com isso, a instalação dos módulos fotovoltaicos aumenta em 40% o peso/m² que a estrutura do telhado precisa suportar.

Além do peso dos módulos fotovoltaicos é necessário que se observe os efeitos da ação do vento, dessa forma, tanto os módulos, suas estruturas de suporte e os métodos utilizados para fixação precisarão ser dimensionados para a velocidade máxima do vento esperada no local, conforme normas aplicáveis.

A força do vento que será aplicada ao arranjo fotovoltaico gerará uma carga significativa para a estrutura da edificação e precisa ser incluída no cálculo de avaliação da capacidade da edificação suportas essas solicitações mecânicas.

A principal carga acidental, que incide sobre o telhado, é provocada pelo vento. A ação do vento as vezes é transmitida às estruturas principais segundo direções não contidas no plano das mesmas, tornando-se necessária a utilização de uma estrutura auxiliar destinada a resistir a esses esforços. (NORMAN BARROS LOGSDON, 2002)

Esse ponto é um dos primeiros pontos que não tem sido bem observado pelas empresas instaladoras do mercado, pois esse tipo de cálculo é realizado por um profissional específico, que raras vezes fazem parte do quadro técnico dessas empresas.

Deve-se levar em consideração também que as estruturas já são, na grande maioria das vezes, existentes, então o estado de conservação dela também de ser observado, além de se verificar a forma como foi executada, pois de nada adianta um projeto ter sido bem desenvolvido, mas a execução não ter seguido esse projeto no passado.

(lamentavelmente, no dia 7/12/17, houve um acidente com morte na queda de uma estrutura apenas com a visita da empresa de instalações de sistema solar. A reportagem pode ser lida aqui.)

Perigos na fixação dos módulos – Durante a instalação

O trabalho de instalação desses módulos também é crítico quanto ao quesito de segurança. Se trata de trabalho em altura e em plano inclinado (quando em residência, na maioria das vezes e com içamento de carga).

O treinamento em NR-35 é necessário, mas não suficiente. Da mesma forma que se ocorre com o treinamento de NR-10, as pessoas tendem a achar que o treinamento basta para atender a segurança. Ledo engano.

O treinamento é apenas o ponto de partida.

A NR-35 prescreve que:

35.4.2 No planejamento do trabalho devem ser adotadas, de acordo com a seguinte hierarquia:

a) medidas para evitar o trabalho em altura, sempre que existir meio alternativo de execução;

b) medidas que eliminem o risco de queda dos trabalhadores, na impossibilidade de execução do trabalho de outra forma;

c) medidas que minimizem as consequências da queda, quando o risco de queda não puder ser eliminado.

A primeira medida não é possível atender na instalação dos painéis, pela própria necessidade de instalação.

E agora?

Com isso, precisaremos tratar das outras duas medidas.

A NR-35 diz que:

35.5.1 É obrigatória a utilização de sistema de proteção contra quedas sempre que não for possível evitar o trabalho em altura. (NR)

Esse é um item que é muito difícil em se atender em sua totalidade em uma instalação residencial.

A norma define que o sistema de proteção contra quedas seja coletivo (por exemplo, guarda-corpos provisórios durante todo o período de trabalho, o que se mostrará inviável economicamente) e quando ele não for possível, que se utilize medidas que minimizem as consequências da queda.

Resta-nos então, minimizar as consequências da queda. A solução “padrão” para isso é o uso do cinto de segurança com talabarte duplo, no entanto, onde fixar?

Com isso, podemos concluir que apenas o treinamento em NR35 não é suficiente para se garantir o trabalho com segurança.

Aliás, a empresa contratada, ou melhor a que oferta o serviço, precisa ter discernimento para identificar serviços que não são viáveis de serem executados pois a condição do imóvel não permite que o trabalho seja realizado em condições aceitáveis de segurança (veja o acidente descrito anteriormente).

Então, antes de se iniciar propriamente a execução dos serviços de instalação do sistema fotovoltaico, dois pontos já precisam ser analisados:

  • A estrutura existente suporta os esforços novos, oriundos da instalação do sistema?
  • Como trabalhar, efetivamente, sem risco de acidentes no trabalho em altura?

Até o momento, os serviços de eletricidade propriamente dito, não iniciaram, e ainda resta um ponto para analisarmos antes disso.

E o içamento dos painéis, como fazer?

As opções utilizadas variam desde carregar por escadas de serviço, içamento manual com corda e roldana, içamento com talhas manuais ou elétricas ou através de caminhão guindaste (munck).

A opção mais segura deve ser estudada caso a caso, no entanto, vemos no mercado, içamentos realizados com improvisações, como pedaços de madeira presos de qualquer forma, com uma roldana na ponta e utilizado para o içamento dos painéis.

Nas figuras abaixo, exemplos de meios de içamentos seguros.

Riscos na instalação das placas fotovoltaicas T8m
Imagem cedida pela T8M Energia Solar
Riscos na instalação das placas fotovoltaicas Renew
Imagem cedida pela Renew Energia

Ainda no telhado, apesar de não trazer risco direto e imediato para quem desempenha o serviço de instalação temos um ponto muito importante para avaliar.

Fixação dos módulos

Como e onde fixar os módulos? O mercado apresenta uma série de soluções para isso, mas sempre se deve ser observado as condições do local.

Sempre há o risco de se danificar a impermeabilização ou de se danificar telhas, que no futuro, podem vir a se quebrar, gerando problemas tanto de infiltração como das estruturas cederem futuramente sob ação do vento.

Conclusão

O objetivo do artigo de hoje foi mostrar que os serviços inicias de uma instalação de um sistema fotovoltaico já possui uma série de riscos em sua execução, e que para isso, o PLANEJAMENTO de como executar os serviços é fundamental para a segurança.

Sempre devemos salientar que um sistema FV é vendido para o cliente para uma vida útil de pelo menos 25 anos. Não faz sentido a placa durar 25 anos e a instalação ser malfeita e no futuro aparecerem custos inesperados.

Lembrando sempre, SEGURANÇA GERA QUALIDADE!

No próximo artigo tratarei das exigências referentes ao cabeamento, conexões e infraestrutura para interligação dos módulos com a string box.

Artigo publicado originalmente na revista Lumière Electric 227 – Link da revista acesso interrompido por iniciativa da publicação

Fotografo da Imagem de Capa: Tiago Carvalho/InterTV dos Vales

Imagem de capa extraída de: https://g1.globo.com/mg/vales-mg/noticia/idoso-de-78-anos-morre-apos-teto-de-asilo-desabar-em-frei-inocencio.ghtml em 13/12/2017.

2 respostas

  1. Realmente uma fatalidade esse episódio do telhado que despencou, mas que poderia ter ocorrido com qualquer prestador de serviço que viesse a subir no telhado sem antes se certificar das condições do madeiramento do telhado.

Vinicius Ayrão

Vinicius Ayrão, carioca, apaixonado por energia elétrica, seus conceitos e práticas. Graduado em engenharia eletrotécnica, com pós em gestão de projetos e trajetória empreendedora.

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Conhecimento dividido multiplica!

“Se eu vi mais longe, foi por estar sobre ombros de gigantes.” Isaac Newton.

O nosso principal objetivo no blog é dividir e disseminar conhecimentos em instalações elétricas, solar FV, segurança em eletricidade e gerenciamento de projetos. É minha contribuição em reconhecimento a todos aqueles cujos exemplos e conhecimentos me fizeram caminhar na profissão, principalmente a meu pai, o engenheiro Luiz Venancio.